quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Na mesa dos perdedores

Corações partidos numa noite escura e fria,
Eles riem e brindam seus fracassos
Como se ninguém soubesse do que se trata
Eles se vangloriam das batalhas que não venceram.

Na medida que entra o àlcool e o pó, todos crescem
Ficaram ricos, bem dotados e partiram corações,
Pobres fantasmas de si mesmos
No dia seguinte voltarão aos seus postos de perdedores.

Entre um tango e outro, ouço Pola Negri, ironicamente
Cantando "keep smilling my dear, keep smilling"
Também é irônica minha sensação de que ninguém é o que gostaria de ser
Nem ela que era polonesa, foi atriz "alemã" e morreu no Texas, quase americana.

Quanta farsa em uma única noite,
Do fundo musical da mulher que casou com um galã homossexual
À esses acabados que contam vantagens porque beberam demais
Peço mais um drink e desejo não terminar assim.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma noite no bordel

Belladonna atendia seus clientes
Com o sorriso da vitória em seus olhos
Não se sentia usada ou ultrajada em seu ofício
Sentia-se plena em suas escolhas, verdadeira.

Dos tempos em que dava amor sem pedir nada em troca
Aos atuais tempos onde vende ilusões de alto custo
Agora ela se sente vingada de todos aqueles
A quem dedicou tanto de sua beleza e juventude.

De moça de princípios a falsa loura num bordel
Belladonna ainda era mais bela por sua frieza
Pois a crueldade também é bela
Percebeu em sua beleza um repelente de boas intenções.

Hoje havia um mundo à seus pés
Amanhã caía o mesmo sobre sua cabeça
Tudo era tão inconstante que questionar já não fazia sentido
Passar o tempo negociando sua beleza por "una dolce vita" era melhor.

Não dormia antes de amanhecer
Pois é na noite que as boas mentiras são contadas
Se habituou a ouvir, e aprendeu a contar tantas outras
Não sentia culpa nem desprezo, tampouco amor a sí mesma.

O bordel lhe parecia um lugar justo
Onde velhos clichés eram dispensados
Milagres não eram esperados onde esperanças não haviam
E entre aquelas almas sorridentes, só havia uma única diferença: quem pagava e quem recebia.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Fotografias

Hoje reví tantas de nossas fotografias
E entendi que somos nossos mais cruéis carrascos
E que matamos sempre o que mais amamos
Que sepultamos o que de mais lindo já existiu.

E por lados separados criamos novas fantasias
Aquelas que não vão durar, passam num piscar de olhos
E que serão esquecidas quando lembrarmos de nós mesmos
Jamais dispensaremos o mesmo olhar para situações substitutas.

Acompanhamos nossas vidas como uma novela 'underground',
Pessoas vêm e vão, nos divertimos e ninguém ficou
Mas que diferença isso faz?
No fundo todas aquelas forças já não existem mais, tudo cansa.

Pois, parece que levastes de mim a capacidade para amar
E deixastes em seu lugar, a capacidade para esquecer.
Com o tempo acostumamos às nossas ausências,
E com o tempo qualquer ausência deixa ser sentida...em muito pouco tempo.

O silêncio

O silêncio corta, é sádico
Te fala das coisas que teus ouvidos foram poupados
O silêncio é a calma mais angustiante
É o som mais incompreensível de todas as obras.

O silêncio é o encontro entre o Deus e o Demônio interior
É a arma do sábio e o merecimento do tolo
Só o silêncio machuca sem a necessidade de qualquer contato
É o invisível castigo que se sente e até se vê (...)

O silêncio é também o desprezo pelas perguntas que ficaram
Perdidas no tempo, o silêncio mata qualquer tempo
O silêncio é o nosso amigo mais fiel
E sabe mais do que sempre saberemos um do outro.

O silêncio é o grito dos covardes e a honra do justo
Contraditório é o silêncio de cada um de nós
O mergulho profundo nos mais negros mares da memória
O silêncio é o resumo do desinteresse nas coisas que só o silêncio poderia explicar.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Avec le temps (com o tempo)

Com o tempo
Com o tempo, vai, tudo vai embora
Nós esquecemos a face e a voz
O coração, quando bate mais depressa, não é mais pela
dor da partida
E descobrimos mais adiante que se você não se importar
e deixar como está, tudo irá bem

com o tempo
Com o tempo, vai, tudo vai embora

Aqueles que nós amamos, que nós procuramos debaixo da
chuva
Aqueles que nós reconheciamos só com um olhar
Entre palavras, entre linhas, e debaixo da maquiagem
Como um juramento escondido que foi adormecido
Com o tempo, tudo desaparece

Com o tempo
Com o tempo, vai, tudo vai embora
Até as mais maravilhosas memorias,até aquelas
No corredor eu imaginei nos raios da morte
Sabado a noite, quando a bondade está completamente
sozinha, por conta propria

Com o tempo
Com o tempo, vai, tudo vai embora
Aquele por quem nós choramos, serviu só para nos dar
dores de cabeça,e para mais nada.
E aquele que nós demos fôlego e jóias
E vendemos nossa alma, por somente alguns centavos
Por aqueles que nós sofremos,como cães
Com o tempo,vai, tudo vai embora

(Léo Ferré, 1972)

*a letra que eu gostaria de ter escrito.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O coração.

"o coração endurece, sem se perceber.
ano após ano, vamos vivendo,
experimentando, pagando o preço,
sorrindo, fingindo, acreditando.

o coração endurece, é inevitável.
nada volta a ser igual,
não existem dois começos para a mesma história,
não se apaga o que foi feito.

o coração...apenas endurece.
onde tantas pedras foram atiradas,
uma montanha do mesmo material se formou.
foi inevitável. também foi nescessário".

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ela (...)

Ela sofre, sofre mais que o sofrimento,
Sofre além do sentido da palavra,
E tenta, com egocêntrico desespero,
Dar sentido às suas próprias palavras, tão amargas.

A amargura é toda dela, ninguém a quer,
Ninguém além dessa bela mulher afetada
Pelas sensações que não pode evitar.
É infeliz, possessiva e quase demente.

Seus talentos lhe safam de seus defeitos,
Resta aos seus queridos os chiliques da eterna insatisfação.
Ela que sabe tanto, ainda não sabe o que quer, ou mesmo se quer...
Só precisa de pessoas que suportem tamanhas variações de humor.

E, como a vida é mesmo um poço de incompreensão,
Não há sentido no que se testemunha a seguir:
Ela mantém todos a quem deseja ao seu redor,
Servindo-lhes de tapete, numa escravidão voluntária.

A amargura é só dela, a frustração é toda minha.
E ela sofre levando a vantagem no que faltou à mim,
Quão irônico é tudo isso, é patético.
Quem me escolheu pra esse papel?

E lá vai ela, linda e triste,
Sofrendo o sofrimento que não é de mais ninguém.
À escrever seus textinhos de cortar pulsos e corações.
Ela tem seu "feedback", eu desconfio que sou menos infeliz que ela.

Resistansen

Vamos brincar de roleta russa,
Um revólver falsificado, um rosto novo.
Vodka na mesa, pessoas sorrindo,
Encenando uma frágil satisfação.

Meus estranhos se tornaram familiares,
Mas eu nunca os conhecí,
Nunca reconhocí qualquer gesto ultrapassado
Que não faz de mim vítima ou mera circunstância.

Eu não jogo mais nesse jogo...
Alguém perdeu, alguém levou embora a recompensa.
Mas, chamemos novos parceiros à mesa,
É divertido, sempre foi assim, não é?

Vamos brindar àqueles que não resistiram,
Aqueles que virão, inocentementes à essa mesa.
Atraídos pelos nossos belos sorrisos, sucumbirão.
É o charme que nunca morre.

Talvez eu esteja prestes a abandonar velhos hábitos,
E apostar que consigo ser capaz disso e mais.
Me apavora a idéia de compartir, outra vez,
Uma roleta russa com velhos comparsas, já mortos em mim.



"Og dei som ikkje klarer å stå distansen
dei kan ikkje vær medlem av resistansen,
Halleluja.." (Kaizers Orchestra)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amor ...

Meu amor, pensei em sofrer por ti,
Me trancar num quarto escuro,
Relembrar nossos maravilhosos momentos
E sofrer mais e mais.

Ver o mundo sentindo pena de mim
Enquanto me pergunto, quando tudo começou a dar errado?
Beber, lamentar e ficar feia por falta de amor próprio.
Além de recontar a história a cada um que se aproxima.

Meu amor, amor não há.
Todo fim já me pareceu o mais dolorido,
Mas era apenas o mais atual, a dor presente.
Amar e sofrer deu trabalho, vou alí me distrair.

Hoje é você, ontem foi ele, amanhã será outro.
Por isso, vou ouvir musica turca e fazer planos,
Dos lugares que quero conhecer e, como vou chegar lá.
E no meio do caminho, novas paisagens apagam velhas memórias.

Perdas

Quando a noite cai, alguém entra em mim.
Muda meus planos bons por outros insanos,
Eu não paro aqui nem alí
E todo mundo parece tão interessante.

O chão é o limite pra quem tem os pés nele,
Onde eu estava quando minha dignidade fugiu
Entre desconhecidos, bêbados e alpinistas sociais?
Ainda procuro meus pedaços...

E lá se foi o cabelo, a maquiagem e os bons modos.
Falei várias línguas, beijei bocas sem rosto,
Pois não lembro o que não deixou marcas,
Meus joelhos, hematomas, minha boca inchada, cheiro de quem?

Acordo num lugar que não reconheço como meu,
Me assusto com o espelho, minha cabeça explode.
Faço promessas e sinto um desejo doentio de desaparecer.
Eu odeio tudo isso, mas por um tempo não lembrei de você.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

por Pablo Neruda.

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

La chanson de l'adieu.

Je t'adore, comme je ne peux pas de oublier,
Aussi te nécessite quand les voix se sont tues.
Et comme la nuit que s'évanouit,
On oublie le visage, le plus belle visage...

Je peux toucher cette chanson de l'amour à la ferme,
Et dans les rayons d'la mort,
Tout ces gestes faits et refaits n'existent pas.
Tu sais je vais t'aimer...aussi t'abandoner.

http://www.youtube.com/watch?v=5jVLW-2PYR0