terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A dama orquídia

Cheirosa puta nua, De movimentos febris e ofegantes, Tão falsos quanto o amor incondicional, Tão condicionada e vasta em seu despespero... Te vestes como uma selvagem domesticada, Falas com a coerência de uma anta em parto, Mas encanta como a bailarina em pleno solo vitalmente ensaiado. O que que te faz assim tão contraditória? As cartas dançam na mesa, Copos trepidam em mãos atrapalhadas pela histeria do amável instante, Esse que morre entre mãos frenéticas que jogam e falam por que ali estão, E não importa o que sai da mão ou da boca se tudo se esvai ao ponteiro do relógio. E tu dama orquídea, De onde tirei este nome para te dar hoje, Foi da tua brancura agressiva ou da minha jocosa audição? Neste mundo pouco importa a procedência do que se tem fácil. Disto apenas sei sem fingir que o sei, E poupo-lhe com palavras sutís de iminente agressivade moral, Que é natural destas horas confusas, Quando te miro nos olhos e me perco na floresta sentimental que te criou, Tão dona do que é selvagem.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pararelos

Estou doente
Quero estar assim
Quero sentir-me fadigada, melancólica
Como se tivesse feito muito esforço.

E não fiz absolutamente nada
Só dormi, acordei, tive insônia, depois pesadelos
Variei com mau humor e remédios pra dor de garganta
Amenizei com vinho, cerveja, televisão e música.

Fora dessa casa a natureza me humilha com sua perfeição
O céu é azul e o sol banha de luz as plantas e as belas flores
Amo tudo isso, e o amor é humilhante
Aqui dentro há um mundo paralelo.

Quisera eu ter a ingenuidade dos que são felizes
E não essa insatisfação de quem ficou muito tempo na fila de espera
O tédio me adoece nessa bela paisagem onde tantos vêem Deus
O que eu vejo é apenas areia, plantas e água.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Nuances de uma vida moderna.

Você se esforça para ninguém te perceba tão pretensioso,
E essa pretensão te consome a criatividade, a naturalidade
Que precisa para atuar melhor.
E logo te sobra o pânico, ele mesmo!

A tua pretensão foi desmascarada,
Todos eles sabem, especialmente quem nunca poderia ver.
Agora você sai correndo para o seu esconderijo imaginário,
E a imaginação, essa víbora de tantos dedos duros e olhos risonhos

Já não te oferece proteção alguma, você está nu!
Pessoas te observam, riem, julgam, cospem nessa cara descarada.
Você morre fétido, gelado, despretensiosamente esquecido, e assim ACORDA!
Está vivo, e no espelho ainda é você,

Mesmo que isso já não faça sentido algum,
Ainda é VOCÊ.
(...e poderia ser pior?)

domingo, 24 de julho de 2011

Novos tempos

Lá se vai a história que ninguém soube contar
Fica para trás a pureza dos primeiros suspiros de esperança
No lugar, um suspiro de alívio.
Agora posso errar e acertar, começar e me destruir outra vez.

A pena de si mesmo é um sentimento nobre para os covardes,
E desse gosto, talvez, eu não esqueça jamais.
Agora eu deixo para trás uma vida de suposições e suspeitas,
Também deixo as armas que não preciso mais.

Matem-se! Está tudo aí.
O material, os covardes, os sonhadores e os usurpadores.
A miséria faz seus seguidores
Mas não tolera amadores.

Pra que tanta pose forjada de controle,
Se a raiva é o único sentimento puro que há na terra?
O contrário da raiva não é amor, é a dúvida.
Por que não foge comigo agora?
Amanheceu.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Insônia

Observo um mundo do lado de fora
E tudo está sempre ao longe, eu não ligo
É uma ilusão pela metade
Basicamente partes do que fui e vivem jogadas por aí

E tudo que tenho a oferecer é meu meio-amor
Meio encantamento com o que não me toca
A preguiça de fingir que não a tenho
Quando o que mais tenho me vem pela metade (ansiedade de ser leve).

Metade eu ofereço meio sem vontade
Outra metade eu imploro (com preguiça, sempre)
Quando deito já não durmo e quando durmo já não sonho
E quando sonho não é mais sonho.

Meu corpo está onde não me vejo presente,
As vozes do meu lado, as risadas, as esperanças
Tudo me é indiferente como o aniversário que faltei
É tudo passado e futuro num presente que não vivo.

Vai, tome minha mão e leve contigo alguma lembrança
Aliás, levem-as todas, uma a uma!
Não as quero mais
Não quero nada do que queiras pois querer me é demais.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Apocalipse

Você sabe quando algo morre,
Invariavelmente sabe e também morre.
Sente as forças de outrora te abandonando,
As certezas de outrora...

E essa morte travestida de solução,
De afeto penoso
De paz que precede a guerra
Ela te pega na curva da dúvida e te mata.

Você sente a angústia que precede a morte
O sorriso some da cara,
O coração acelera,
O desespero toma conta.

Perder...você vai perdendo e quer de volta.
A ausência é tão inaceitável!
Mas por que parece que assim é melhor?
Você sente quando algo morre...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Peixes

Peguei-me olhando pela janela
Identificando cada peixe nesse aquário urbano
Que histórias vêm com eles
E em que águas nadaram até chegar aqui

Vivemos todos presos num aquário
E somos todos peixes
Mais belos, mais extravagantes, mais lisos, mais venenosos
Somos todos peixes

Peguei-me vigiando vidas que não me pertenciam
E concluí que pouco ou nada me pertenceu de fato
E foi-me mais fácil assistir à sofrer a fadiga de pertencer
Eu prefiro assistir

Assim vejo-me em meu aquário de água salgada
Á admirar aquele que mora num aquário de água doce
E me faz acreditar, de tempos em tempos
Que nossos aquários poderiam ser um só

E somos todos peixes
Eu vejo tudo aqui dessa janela do décimo andar
Alguns pertencem ao mesmo aquário e outros ao mar
Eu sou o salmão...o salmão, o eterno salmão.