Pela sacada de seu quinto andar,
Ela contemplava a rua suja,
Pessoas desprezíveis, bêbados, travestis, prostitutas.
Universitários flertando com o proibido.
Esses logo esquecerão de tudo isso.
Há uma bela carreira à sua espera,
Pais que se sacrificaram para poupá-los da realidade.
Do cru, cinza e fétido da raça humana em seus extremos.
Ela avistava tudo incólume.
Mergulhada na melancolia de suas lembranças,
De como foi chegar até a ali,
Seus altos e baixos de uma vida sem explicação.
Já não sentia mágoa ou, gratidão.
Evitava fazer parte de tudo aquilo,
Preferindo observar e, enquanto via tanto acontecendo
Também via o tempo passar por ela, impune!
Continuava tão bela quanto antes,
Porém, em seu olhar estava todo o peso
Daqueles anos de risos, lágrimas e descobertas
De um mundo novo.
O mundo das grandes festas e, pessoas plásticas.
Do quinto andar pensava se jogar e,
Acabar logo com toda aquela insatisfação
Que sentia ao ir pra cama sempre sozinha.
A opção de quem tanto amou ser amada,
Agora era a solidão, a cama fria.
Envelhecera antes da idade,
Preferia livros a contatos físicos.
Talvez perdera boa parte da vaidade
E, quando sentia saudade
Buscava a companhia de um bom vinho.
Para morrer é preciso coragem e,
Essa mesma qualidade que a acompanhou
Por tanto tempo, agora não passava da mais vil
Covardia.
De quem chora a noite pra encarar mais um dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.