terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

5° andar

Pela sacada de seu quinto andar,
Ela contemplava a rua suja,
Pessoas desprezíveis, bêbados, travestis, prostitutas.
Universitários flertando com o proibido.

Esses logo esquecerão de tudo isso.
Há uma bela carreira à sua espera,
Pais que se sacrificaram para poupá-los da realidade.
Do cru, cinza e fétido da raça humana em seus extremos.

Ela avistava tudo incólume.
Mergulhada na melancolia de suas lembranças,
De como foi chegar até a ali,
Seus altos e baixos de uma vida sem explicação.

Já não sentia mágoa ou, gratidão.
Evitava fazer parte de tudo aquilo,
Preferindo observar e, enquanto via tanto acontecendo
Também via o tempo passar por ela, impune!

Continuava tão bela quanto antes,
Porém, em seu olhar estava todo o peso
Daqueles anos de risos, lágrimas e descobertas
De um mundo novo.
O mundo das grandes festas e, pessoas plásticas.

Do quinto andar pensava se jogar e,
Acabar logo com toda aquela insatisfação
Que sentia ao ir pra cama sempre sozinha.
A opção de quem tanto amou ser amada,
Agora era a solidão, a cama fria.

Envelhecera antes da idade,
Preferia livros a contatos físicos.
Talvez perdera boa parte da vaidade
E, quando sentia saudade
Buscava a companhia de um bom vinho.

Para morrer é preciso coragem e,
Essa mesma qualidade que a acompanhou
Por tanto tempo, agora não passava da mais vil
Covardia.
De quem chora a noite pra encarar mais um dia.

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