quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tango

Alí mesmo onde tudo começou, findou.
A rua, as músicas, os personagens.
E de todas as certezas de outrora,
Agora apenas a inconformidade e o sentimento
De uma traição, à sí mesmo, lhe acompanhava.

Impossível reconhecer naquelas olhos castanhos
As mudanças que havia sofrido de uns tempos pra cá.
Ele se sentia traído em suas apostas, tantas vezes ganhas.
Nela, não havia expressão que explicasse tal reação.

Esboçou qualquer resposta que sentiu: devia dar.
Não havia. Quê dizer àquele que nada mais tem à dizer?
O tempo passa para todos aqueles que esperam por ele.
E o seu tempo, não menos especial que outros, passou.

Morte lenta e sofrida, agora a paz, supostamente, "eterna".
Diria que tanto te amei a ponto de me odiar.
Porque quando se dá tudo que de sí, nada resta à compensar.
Uma vez vazio, o espaço se faz aberto outra vez.

E, assim se faz um tango,
De amor e de morte, de drama em preto e branco.
De mil anos de solidão e de poesia de alcôva,
E da dolorida inspiração de cada adeus.

"je ne t'aime plus, mon amour,
je ne t'aime plus tout les jours"

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Carne

E de repente, tudo ficou tão claro.
Os dias foram correndo, expirando os prazos,
Matando as esperanças,
Devolvendo a realidade ordinária.

Mas, não há culpa nem culpados.
Nós que somos feitos de carne e instinto,
Dependemos de uma noite extraordinária
E algumas promessas vazias.

Eu não ousaria fazer observações,
Me limito apenas a entender.
Nossos corpos são ferramentas de prazer e dor,
Nos usamos uns aos outros para consertar certas falhas.

Quem sou para julgar atos que me soam familiares?
Talvez devesse agradecer o favor de me devolver à terra dos mortais.
Mas, minha recuperação beira o fatídico desprezo...
Tudo me vem e vai tão rápido que chego a duvidar que existiu.

Somos feitos de carne, escravos de tais necessidades.
Obedecemos nossos instintos e, ferimos desmedidamente.
Eu não o culpo, apenas aguardo o dia seguinte.
E, essa mínima dor que sinto agora, é em nome do meu egoísmo.

Já contamos nossas mentiras de uma noite eterna,
Com planos detalhados e promessas impossíveis.
Não precisamos de uma segunda chance
Para perceber que duas partes iguais não poderiam se encaixar, jamais.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entre linhas...

Te amo, sempre te amei.
E foi-se o tempo do ego ferido,
Daquele ódio desmedido,
Das juras de vingança e do desprezo ensaiado.

Te amo, e tua falta é sentida
Toda vez que me deito e não me encaixo em você,
Não cheiro teus cabelos e, não aperto aquela barriguinha
Pra te ouvir reclamar.

Sempre te amei, e depois de tanto rancôr
Parece que meus dias foram roubados.
Minha alegria é tão artificial quanto
Todas as vezes que acreditei querer outro mais que à você.

Te amo e sempre te amei, inconsolavelmente.
Por isso estou fazendo as malas, e indo pra tão longe.
Pois é à outros que puno por não mais te ter.
Equando eu te machuco, é um pedaço de mim que assisto, lentamente, morrer.