terça-feira, 29 de março de 2011

Canção do tempo

Ontem eras apenas uma criança
E hoje já não reconheces a violência em seu coração
Não percebestes a tempo tantas mudanças
O que faz de ti homem também te transforma em animal.

Lembra-te da menina gordinha e insignificante da escola?
Ela recebeu o Nobel da ciência
E você ria dela...
Todos riram enquanto ela estudava.

Ela também riu... Tempos depois.
Mesmo sem saber que o galã estudantil hoje não passa de um pedreiro, alcoólatra.
E ele também riu dela.
Que pouco romântico é o tempo!

Ontem tudo parecia tão certo que o hoje não parece real.
As filas, as contas, as doenças, os medos modernos, os corações partidos.
Os partidos corruptos!
Hoje estamos partidos em tantos pedaços...

Tens em frente ao espelho um rosto cansado,
O tempo te causou tantas linhas de expressão,
Mas você já não tem expressão alguma.
Teu rosto parece estar cansado de ser rosto, de ser seu, do próprio cansaço!

E as belezas que te satisfazem hoje
São belezas maliciosas.
Sem beijos demorados, apenas carícias e um final.
Dispensas o afeto, pois lhe falta o tempo para amar.

E em ti ainda há tanto por ser vivido,
Que por um pequeno espaço de tempo te julguei eterno.
Mas eterno mesmo é só o tempo.
E nós apenas passamos por ele enquanto ele nos passa para trás.

Assim vai o tempo cantando sua canção de glórias
De fobias, de sonhos, de magnitudes e desenganos!
E já fartos disso, ainda sonhamos em ter tempo suficiente
Para deixar alguém com o que restou dos nossos sonhos incompletos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Muito tempo

Por muito tempo provei das tuas inseguranças,
E elas fizeram de mim uma metade insegura.
Depositei esperanças nas tuas esperanças.
Então você mudou de idéia e eu me perdi.

Por muito tempo provei da tua covardia,
E agora me vejo covarde e fraca.
Saboreando o amargo das tuas indecisões,
Possuída pelos teus demônios internos.

Por muito tempo vim exercitando uma falsa paz,
Que mais me atormenta a cada dia.
E sinto que o Apocalipse se aproxima,
E nossa cápsula de proteção ainda está no projeto.

Por muito tempo estive aqui.
Sempre aqui e você lá. Aqui e lá.
E foi tanto tempo que tudo envelheceu.
O verde das paisagens, o sorriso perolado, o coração vermelho...

Agora tudo é marrom.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Aquele que fere a fera.

Hoje é um daqueles dias em que dormir cada vez mais ainda não é suficiente.
Não, não fui vítima de sorte alguma de acontecimentos contra minha vontade.
Ao contrário, é o poder ferir que me fere hoje.
Por tantas vezes me senti traída, usada, abandonada.

Essa sensação de auto-flagelo misturado à pena de mim mesma
Sempre me soou tão confortável que mal mesmo era sair disso.
Mas, ferir-te dói mais.
Dói-me a dor estampada em tão puros olhos verde-água.

Corrói-me como ácido a dor silenciosa e honesta que leva meu nome,
As lembranças boas que agora machucam,
Elas levam o meu cheiro, minhas gargalhadas, meus passos.
E não há pra onde fugir, pois sabe-se: aqui é meu lar.

Descbri em mim alguém que sente pena!
Por onde andava essa alma que tanto já me fez falta?
Descobri em mim algum resquício de pureza.
Mas hoje sou parte de algumas marcas de crescimento em ti.