terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ausente.

Hoje acordei com a saudade que
Já não sinto mais,
Dos planos que não tenho mais,
Dos lugares que não freqüento mais.

E olhei pro meu eu distante,
Aquela que também já não estava mais ali.
E me perturbou a indelicadeza com que saí de mim,
Sem me despedir.

Não foi assim que me educaram!
Lembro-me bem dos antigos cuidados,
Aqueles que também não tenho mais.
E a saudade que já não sinto mais, nunca doeu tanto quanto hoje.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Sangue

Sangue do meu sangue!
Se preciso fosse te daria meu sangue,
Se possível fosse, beberias o meu.
E não faríamos cerimônias.

Por vezes me perguntei quanto do teu sangue
Corre minhas veias.
Por vezes me perguntei quanto suguei do teu sangue
Cada vez que sorrí.

Talvez já tenhamos sangrado todo nosso veneno,
Mas em que veias corre o sangue puro agora?
Não me aponte teu dedo sujo do meu sangue!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Crenças

Dentre tantas crenças mortais,
Dentre tantas pessoas irreais,
Eis que aqui me surgem teus belos olhos verdes fumegantes,
E de tanto que fugi que acabei atada a ti.

E separados não sabemos de amanhã,
E juntos não sabemos de mais nada.
Então nossas crenças já não importam mais,
Nós, ateus e racionais, nós somos iguais.

E em ti encontro meu Eu perdido no tempo,
Nos anos que nos diferenciam no espaço dos tempos.
No que fui, no que sei que será um dia.
E só o AGORA existe, e nisso temos fé.

Quanto mais te tenho mais eu gosto de mim,
Quanto mais te ouço, mais me ecoam as memórias.
Mas seria demais acreditar em coisas que desacredito,
Demais admitir que nossas diferenças são iguais.

Em ti me vejo, me ouço e me atordôo,
Em ti me puno e depois me perdôo.
Dentre tantas crenças às quais nos perdemos todos os dias,
Por que não perder a sensatez de viver hoje o que não sabemos de amanhã?

*Bienvenu au monde, mon petit prince.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Les criminals

Por trás da névoa incerta de cada noite
Quando o mal se veste de bem
E o bem se rende ao mal,
Nossas intenções se confundem.

Por trás de cada copo que esvaziamos,
Um mundo se abre perante nós.
Quem fostes até ontem com tanta convicção
Hoje, essa certeza, já não te pertence mais.

Então unimos nossos personagens
Numa excitante atuação que termina num duelo real.
E amanhece, e a luz do dia cai sobre nossas cabeças
Iluminando a face dos amantes infiéis.

Eu te estranho, tu me me estranhas,
Mas ainda estamos aqui pretendendo qualquer forma de afeto...
Porque somos fracos de espírito,
Porque tememos a solidão como crianças perdidas.


Eu te engano, e tu me enganas.
Assim transformamos diferenças em falsas esperanças,
Como se esse mundo marginal arcasse com nossas contas,
Agora já não devemos nada à ninguém.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Compaixão

Estendes a tua mão até minha face,
Enxuga-me, e afaga-me
Com tua infinita compaixão,
Meu rosto que agora se desfigura perante cada palavra tua.

E agora, aos solavancos psíquicos,
Me perco entre o ontem e o nunca mais.
Aceito agora que já não fazes parte de mim,
Aceito o medo de perder-te como fato concreto.

Em teus fortes abraços sinto que jamais voltarás,
E talvez nunca fostes,
Na plenitude tão meu quanto eu fui tua.
Em teus braços meu desespero é maior que a razão.

E já te vais,
Eu enlouqueço serenamente...
Enquanto dizes que me quer bem,
Eu te digo para que vivas tua verdade.

Téns meu rosto quente em tuas mãos frias,
Mencionas minha beleza (com honras),
Defendes que o nosso tempo (que agora desprezas),
Foi belo, necessário, e foi também real.

E eu te pergunto:
Em qual verdade fomos capazes de viver?
Toma-me em teus braços e confessas outra paixão,
Beija meus cabelos e estendes tua mão sobre a minha.

Minha mente já cansada
Se vê remetida aos dias que pareciam incontáveis.
Se sabes dos infernos que existem dentro de cada um de nós,
Então, o que pretendes com tua compaixão?

Deixe-me só.

Cartas rasgadas

Espero que estejas mesmo feliz,
Depois da veemência com que proclamastes nosso fim.
Que em nenhum momento te deixes abater pela dúvida
Do que parece certo aos olhos, e mentes ao coração.

Espero que estejas feliz,
Tão oposto do que estou hoje.
E que tuas palavras de consolo sejam friamente reais
Quando me desejastes a felicidade longe dos teus olhos.

Que sejas infinitamente feliz
Na tua certeza de trocar meu coração doentio
Pela doçura daquele incapaz de ferir-te,
Incapaz de escravizar-te por inseguranças que não sabes domar.

Pois a mim nada mais resta
Que não desejar-te o bem,
A fortuna e o milagre da vida,
A fé que nunca fui capaz de ter, mas tens de sobra.

Que nossos caminhos, agora separados
Cada vez mais distantes se façam.
Para que eu encontre em outros mundos
A distração, quase inocente, que um dia me aprisionou ao teu.