sábado, 27 de março de 2010

A mente.

Minha mente trama, ama, engana
Me trapaceia inconscientemente, indisciplinadamente
O corpo obedece, agradece, enobrece e esquece
A mente...a mente não mente.

O corpo insinua, simula
E na pele nua, vence
A carne extremece, logo a alma condena (...)
Profano é corpo! Esse pedaço de carne que não sente.

Insensível é o silêncio que se segue
A mente pausa e se convence do sono profundo
Profana é a mão que toca e depois se afasta
E na mente acorda o mundo, involuntarimamente.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O cigarro.

Se levantou e deixou alí o último cigarro
E com ele, muito mais nas entrelinhas
Congelou no tempo aquele último sorriso
E as palavras que nunca foram ditas.

No último cigarro ficou a última lembrança
Nem boa nem ruim, apenas lembrança
De duas pessoas que já não seriam duas
E sim, aquele que fere e aquele que sai ferido.

Ninguém fumou aquele cigarro deixado
Ele, e outras lembranças espalhadas pelo chão
Voaram pela sacada e nunca mais foram vistos
E tudo voltou ao que sempre foi, ou não.

E vieram outros cigarros (...)
E com eles uma pergunta que incomodava:
A quanto tempo vinha fumando?
Desde quando não diferenciava o que chegava à sua mão.

Pois tudo virava cinza, se apagava
E na boca restava sempre aquele sabor amargo do final
Num dúbio despertar decidou abandonar vícios destrutivos
O cigarro, as paixões, a tolerância e a fé no próximo.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Nanismo

Eles apareceram tão grandes, a princípio
Mas no começo todo mundo parece grande
Todos são maiores que as expectativas
Mas depois vão diminuindo, diminuindo....

Porque vocês insistem em sofrer de nanismo?

domingo, 7 de março de 2010

A paz.

A frieza com que ela chega...
Seu impacto é um choque que leva ao esquecimento
Sem remorsos, ela lava o sangue derramado
Os vestígios se apagam como se jamais existiram

Ela parece a mentira mais bem contada
A âncora de um navio desgovernado
A razão que explica a sanidade e a demência
A droga que neutraliza os sentidos e o sentir.

Sem amor nem rancôr
Um vazio sem som, cor ou sombra
Não resta nada onde apenas indiferença existe
A PAZ é indiferente à qualquer passado.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A espera

Ficava alí ouvindo música,
Fingindo que não percebia o tempo passando
Disfarçando a angústia, e a sensação de não pertencer
Á ninguém, se não à mim mesma, menina mimada.

Não aprendi a esperar desde que entendi
Que toda espera é uma forma de tortura sem precedentes
É o descaso de quem se faz esperar
E se as horas passam, elas dizem mais que palavras.

Ficava alí roendo as unhas,
Desbotando o esmalte e borrando o batom
Sentindo a maquiagem descendo quente pelo rosto
Ficando feia e esperando um milagre que me tirasse dalí.

A espera foi tão longa que cansou toda a beleza
Cansou toda a polidez, cansou o corpo e a razão
A longa espera roubou as grandes esperanças
E com elas, a inocência necessária para esperar outra vez.

Feras

Tudo um dia acaba, amor, ódio, ciúme
Os odores, os rancôres, as boas intenções
E como feras domadas aprendemos alguns comandos
Mas o perigo e o descontrole moram alí...na essência.

Disfarçamos tão bem nossas sensibilidades
Que nos tornamos vítimas dos nossos próprios personagens
Ora passivos, ora amendrontadores, ora insignificantes
Nos amamos à medida que nos apedrejamos.

E seria pouco dizer que nosso cinismo é tão real
Quanto todas as promessas que não tencionamos cumprir
Mas no decorrer dos dias tudo isso perde seu impacto, fato
Somos feras com o dom das palavras, e são elas que ferem mais.

segunda-feira, 1 de março de 2010

flash back

você mora na estante empoeirada do passado
meus amigos já esqueceram do teu nome
nossa imagem nunca mais foi associada
e eu não tenho mais notícias suas.

não vivemos no mesmo mundo e até sinto
que nunca dividimos qualquer assunto comum
não nos conhecemos mais e isso nem tem relevância
mas hoje, foi apenas hoje, me assaltou um flash back.

acordei dentro de um sonho real demais
tive a opressiva sensação de presença
senti estranheza, dúvida e algum medo inconfessável
o nome disso é carência ou recaída?