quarta-feira, 27 de abril de 2011

Peixes

Peguei-me olhando pela janela
Identificando cada peixe nesse aquário urbano
Que histórias vêm com eles
E em que águas nadaram até chegar aqui

Vivemos todos presos num aquário
E somos todos peixes
Mais belos, mais extravagantes, mais lisos, mais venenosos
Somos todos peixes

Peguei-me vigiando vidas que não me pertenciam
E concluí que pouco ou nada me pertenceu de fato
E foi-me mais fácil assistir à sofrer a fadiga de pertencer
Eu prefiro assistir

Assim vejo-me em meu aquário de água salgada
Á admirar aquele que mora num aquário de água doce
E me faz acreditar, de tempos em tempos
Que nossos aquários poderiam ser um só

E somos todos peixes
Eu vejo tudo aqui dessa janela do décimo andar
Alguns pertencem ao mesmo aquário e outros ao mar
Eu sou o salmão...o salmão, o eterno salmão.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Concreto

Acabou, é fato.
Mas ninguém quer dar a notícia
Que maldita delicadeza é essa que arranha tanto por dentro?

É concreto.
Mas que falsa educação é essa que nos mantém
Olhando o que já nem tem cor?

E esse silêncio...
Uma verdade opressiva que nos mantén tão sutilmente falsos
Que droga de amor é esse que não vive e nem morre?

sábado, 23 de abril de 2011

Não se esqueça de mim

Baby, não se esqueça de mim,
Embora eu me esqueça de ligar (talvez nem queira)
Ou te deixe esperando um sinal qualquer
Embora eu desapareça, não se esqueça de mim

Talvez eu deixe de te dar a atenção de outrora
Em nada diminuiu meu amor (mas a paciência...)
Não se esqueça de mim, baby
Porque eu nunca esqueço de ti

Eu lembro de ti ao acordar,
Na hora do banho (com mais afinco)
Lembro de ti na padaria
Na esbórnia e na putaria

Por isso baby, não me esqueça jamais
Não esqueça daqueles apelidinhos que costumo te chamar
Embora eles caibam tão bem à outros nomes também
Mas é em ti que ficam mais bonitos

Não se esqueça de mim
Porque eu nunca me esqueço de ti
Na verdade do meu silêncio
E nas mentiras da minha cama

Baby, não se esqueça que eu nunca te esqueci.

Abril

Não faz frio nem calor
Também não faz canção, viagem ou mudanças
Não se faz do quase meio ano um ano inteiro
Não se faz do nada um nada inteiro

Nada muda ao passo de mudanças programadas
Nada muda, nada mudou
Nada e ninguém
Ninguém sou eu e você fazendo planos para nada

Conte comigo os trezentos e sessenta e cinco e dias e mais acréscimos
Conte-me o que mudou e a parte que perdi
Pois se eu mesma tento te explicar, me soa complexo
Eu nunca sei mais de ti do que de mim, e vice-versa

Quero rimar abril com febril
Mas o coração é vil e não sentiu
Que pouco a pouco a febre da paixão sumiu
E cá estamos nós em outro abril...

sábado, 16 de abril de 2011

Paranóia

Chega desse mundo vil, dessa gente fraca e seus medos!
Chega de seus complexados e suas cirurgias plásticas,
De seus casados e suas falsas promessas de eternidades
... igualmente plásticas!

Chega de felicidades programadas para amanhã e depois,
Tudo isso me dá preguiça,
Mas quando posso variar a sensação,
Prefiro a náusea (ela é conceitual).

Chega de ver-me vítima das fatalidades que não me pertencem,
Do Haiti, do Japão, Da Ilha Bela
Bela sou eu quando acordo de ressaca!
O resto é mentira e dou pouca fé!


Liberdade é simplesmente um sonho distante, tudo é dois.
Duas cabeças, duas sentenças, duas opiniões, dois tédios, dois desastres em um só plano!
Aiiiiiiii!!!!
Nada como dividir essa vida em DOIS!

Sobre homens, camelos e desertos

O sol é escaldante, mas o camelo segue seu destino
Que fora decidido pelo homem que deve atravessar o deserto
O homem precisa do camelo
Assim como o camelo precisa de mais água.

A areia lhe violenta a pele
Mas o homem mal percebe perdido em seus devaneios de viajante
Precisa atravessar o deserto
Por isso montou aquele camelo.

O animal tem a força que lhe faltaria para tamanha mudança
Que é atravessar de um lado ao outro um imenso deserto
A viagem é longa e o objetivo se torna uma miragem
O homem se vê cansado e o camelo segue.

O homem e o animal atravessam o mesmo deserto
Mas entre eles reina o absoluto silêncio
Tudo em volta é deserto sem fim nem começo
Não resta dúvida: é preciso seguir em frente.

Montado ao lombo do camelo
O homem acredita ser capaz de cumprir a longa jornada
Por isso se beneficia da brutalidade do animal
Este, atende ao desejo do homem, domado.

O homem vai atravessando o deserto
Encima de um camelo que não questiona seus desejos
Mas o deserto atravessa o homem, invariavelmente o vence
Enquanto o camelo, esse já nasceu com deserto dentro dele.

Empty box

You say you miss, but you don't
And you say you need me,
But you need to change your life,
So I could be part of your changes.

I live inside of your dreams,
And your head is higher than you can touch.
Then you have your hands empty but not clean,
I just have an empty box.

I think we've been too drunk in the past few centuries
But what else could we do?
We dream about dreams but...
This real world will tear us apart.

Le voyage

Faltam as palavras que nem cabem aqui,
Mas veja bem, elas já nem servem mais.
Não serve quase nada do que servia...

Perdemos nossas medidas.
Mas eu não me sinto perdida,
Não mais, apenas não caibo no "nosso" espaço.

Eu cresci.
Agora preciso desse espaço vazio só pra mim.
E você sempre deixou ele tão bem decorado...

Você criou esse espaço pra me abrigar.
Quanta doçura!
Pode ir agora, eu estou segura em minha cova.

Mortal

Disfarsas com tão belas palavras o dano causado
Que por meio segundo senti-me segura
No calor dos abraços que nunca chegaram.

Uma mulher perde a beleza quando veste o rancôr,
Assim ouvi quando ainda não conhecia os homens,
E agora vejo-me vestindo-os tão confortavelmente.

Ontem as risadas embriagadas de sonhos,
Hoje a ressaca da covardia que não poupa a melhor das intensões.
And "after every party I die".

Uma mulher é metade mulher quando se vê completa no amor.
Um homem é aquele espaço vazio no jogo da velha.
E que venham as rugas! Sou tão mortal.

sábado, 9 de abril de 2011

Como partir.

Parti-o em mil padaços com minha partida.
Parti a tantos que meus pedaços também foram dividos por aí.
Entre múmias e zumbis,
Todos ficaram com um pedaço partido de mim.

Que saudável viver aos pedaços!
Só agora me sinto parte desse mundo,
Pois todos perdemos partes onde procuramos nossos pedaços,
E todos encontramos partes alheias onde também estão as nossas.

Agora proponho uma aliança sagrada com promessa de união.
E nunca mais viveremos partidos assim,
Pois seremos um só....seremos o que nunca fomos,
Pois, eu não aguento mais viver à minha procura.

In bianco

É tarde, embora pareça tão cedo.
Todos estão se despedindo em algum lugar,
Vão dormr, vão á outros lugares, voltam...
Todos se despedem em algum lugar.

Que páginas completar agora?
Dentro de mim há um espaço em branco
Embora eu me sinto tão negra,
Uma viúva de um conto fantástico.

Me atormenta a idéia daqueles beijos plásticos.
Me atormenta meu próprio silêncio.
In bianco, tantas páginas...
I feel so black.

Agora é tarde de uma tardeza retardada,
De planos retardados (am I retarded?).
Em quase todos os lugares há despedidas,
Eu poderia sair agora, mas já estou atrasada.

Eu levaria muito tempo pra baixar à terra,
Pôr, finalmente, meus pés no chão.
Eu não sou real e o que sinto não tem dimensão.
Por isso fica esse espaço em branco, e eu atrasada.