segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma noite no bordel

Belladonna atendia seus clientes
Com o sorriso da vitória em seus olhos
Não se sentia usada ou ultrajada em seu ofício
Sentia-se plena em suas escolhas, verdadeira.

Dos tempos em que dava amor sem pedir nada em troca
Aos atuais tempos onde vende ilusões de alto custo
Agora ela se sente vingada de todos aqueles
A quem dedicou tanto de sua beleza e juventude.

De moça de princípios a falsa loura num bordel
Belladonna ainda era mais bela por sua frieza
Pois a crueldade também é bela
Percebeu em sua beleza um repelente de boas intenções.

Hoje havia um mundo à seus pés
Amanhã caía o mesmo sobre sua cabeça
Tudo era tão inconstante que questionar já não fazia sentido
Passar o tempo negociando sua beleza por "una dolce vita" era melhor.

Não dormia antes de amanhecer
Pois é na noite que as boas mentiras são contadas
Se habituou a ouvir, e aprendeu a contar tantas outras
Não sentia culpa nem desprezo, tampouco amor a sí mesma.

O bordel lhe parecia um lugar justo
Onde velhos clichés eram dispensados
Milagres não eram esperados onde esperanças não haviam
E entre aquelas almas sorridentes, só havia uma única diferença: quem pagava e quem recebia.